quinta-feira, 22 de junho de 2017

Eu nem queria ir...

O relato seguinte aconteceu não há muito tempo atrás, numa altura em que o Grigas me estava a chatear e insistir bastante para irmos ao Tejo atrás das corvinas.

Sinceramente, não é um tipo de pesca que me agrade... Passo a explicar: não gosto, nada mesmo, de pescar no meio da confusão e loucura que existe à volta delas. As pessoas perdem muitas vezes a capacidade de serem racionais e humanas, transformando-se em bestas, estúpidas e egoístas. Confrontos e trocas de bocas não é comigo, perder material por azelhice de outros que não sabem o que estão a fazer também não!

Por isso, prefiro dizer que não e aproveitar momentos a sós no mar do que ir atrás delas!

Mas a vontade e persistência do Grigas para irmos era mais que muita e então fizemos um acordo: vamos ao mar pela manhã e depois ao final do dia vamos atrás delas. Assim ficamos os dois contentes e é o mais justo!



Logo pela manhã encontrámos um mar forte, com sol a pique e, a menos que aparecesse um peixe perdido do nada, era grade certa. Insistimos, procurámos, trabalhámos amostras, vinis e zagaias mas estava-se mesmo a ver, era grade e ponto final.

Como nós vamos à pesca para nos divertirmos, antes de abandonar acabámos por ficar entretidos numa poça com um caboz gigante que deu uma pequena sessão fotográfica.... Engraçada :)

Acho que vais ter que ir ao dentista...
Esticóbraço!
Pesca feita, hora de ir almoçar. Fomos almoçar num tasco onde se come como deve ser: Bom e Barato! Não preciso dizer muito mais, porque nota-se bem a fome com que o Grigas estava! :)

NHAM-NHAM!!
Já não teve o mesmo sorriso quando acabou o vinho fresquinho... Calma Grigas, ainda temos uma pescaria para fazer! :P

Não adianta, não vamos pedir outra!!
Repostas as energias, passámos por casa para trocar de material e seguimos para o Tejo. Não havia muita gente, eu até agradeci. Não gosto mesmo nada de confusão e era ideal para mostrar como é feita a pesca ao Grigas.

Fazemos uns lançamentos antes da viragem da maré, perdemos 2 ou 3 vinis, vou explicando para onde lançar e como trabalhar o vinil... Estávamos entretidos e a disfrutar a coisa! A maré começa a virar...

Estava o meu vinil a chegar perto quando levo uma pancada forte, sinto o vacilar da cana e rapidamente digo ao Grigas "Olha olha, já está!"

E instalou-se a loucura :)

ZZZZzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz!!!!!

O carreto começa a cuspir fio sem parar, a cana verga-se toda para aguentar o arranque, o Grigas maluco a puxar a linha dele para não atrapalhar... Lindo de se ver!

Puxa forte, manda mais uns arranques e apenas podia ir aguentando... Finalmente começa a parar. Hora de tentar perceber o que temos do outro lado, puxando devagar e bombeado. Não me parecia muito grande, comparando com a minha primeira mas corvina era de certeza.

Pouco a pouco foi cedendo, com a cana fui mantendo sempre tensão no fio que ajudava o carreto a recuperar. É importante manter a calma nestas alturas. Se o peixe estiver bem ferrado, acaba por sair eventualmente!

Antes de encostar, o peixe manda mais uns arranques mas já sem grande vigor. Acaba finalmente por encostar, um velho amigo vai lá baixo buscar o peixe e..... Já está! O Grigas estava imparável e num êxtase surreal, eu sorria de tão contente por ter sido bafejado com tamanha sorte e o melhor de tudo, por ter partilhado com ele este momento!

Uma pequena valentona!
Bocarra amarela!

Com cerca de 9kg e à volta de 1m de tamanho, revelou-se um oponente muito bom... É uma sensação única os arranques deste peixe! Foi uma bela captura.... E eu nem queria ir! :)

9.06Kg - 105cm
Vinil Mordiscado
Resta apenas agradecer ao amigo que lá foi buscar a corvina. Ele sabe bem quem é e qual a história por trás disto tudo, não preciso referir nomes.
Grande abraço para ti e mais uma vez, obrigado!
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quinta-feira, 1 de junho de 2017

As viúvas da pesca

Li há uns tempos um post onde falava das viúvas do triatlo. Inicialmente estranhei o título e texto, mas optei por continuar ler para tentar compreender do que falava o texto. Percebi então que não são viúvas no estado civil, mas sim no estado de espírito, na forma como "perderam" os maridos para um desporto, para um hobbie que consome tudo à volta.

Dos vários desportos que existem, é possível que a pesca dos que mais tempo e disponibilidade poderá consumir. Por não ter um prazo pré-definido, uma pescaria de 30mins ou 1h, pode tornar-se numa noite inteira... Alguns mais corajosos e aventureiros chegam mesmo a fazer dias seguidos.
São precisas bastantes horas perto da água, ao frio, à chuva, com dores de costas e braços. Esta ausência do lar, muitas vezes quase religiosa, leva a que surjam as viúvas da pesca.

Mas serão todas as viúvas iguais?

A resposta é não.

Pode-se identificar pelo menos três tipos de viúvas: a negra, a alegre e a do além.

A viúva negra

Esta será a pior e mais temida de todas... Não aceita a morte da sua cara metade. Não existe a pesca, não há espaço sequer para referir tal palavra! Canas e amostras estão proibidas de serem referidas e ai dele que diga que já comia umas iscas de cebolada! Se for passível de ser associado à pesca, mais vale estar morto...
Viúva negra....
A preparação de alguém que tenha uma viúva negra terá que ser feita em segredo, escondido qual narcotraficante a atravessar a fronteira com um carregamento valioso. Preparar o material só em segredo e bem longe da vista, comprar umas amostras ou carreto novo e rapidamente o esconder, fazer uma pescaria rápida e a correr para depois ir buscar os filhos à escola ou pôr na natação...
Sempre que na casa de uma viúva negra se disser que hoje à noite ou amanhã de manhã vai haver uma pescaria, segue-se um silêncio sepulcral, estranho e desconfortável, seguido com uma mudança de assunto e possivelmente comportamento.
Esta viúva não gosta, não suporta, não admite e não se orgulha da pesca ou do seu pescador. O mar levou-lhe o marido e não se fala mais nisso.

Mas também existe o oposto, a viúva alegre...

A viúva alegre

Esta viúva é aquela a quem saiu a sorte grande, dá graças a Deus e todo o tipo de entidade divina por terem inventado os peixes e ao homem das cavernas por ter inventado o anzol!
"Eu adoro quando ele vai à pesca, é uma maravilha ter um fim de semana só para mim!"
"Vais à pesca de manhã e à tarde ficas tu com os miúdos que eu assim vou ali aos saldos com as minhas amigas!"
Viúva alegre....!
"Oh mor, hoje depois do jantar vou à pesca e só volto amanhã de manhã" e ela pensa logo "que sorte!! hoje vou poder ver a novela descansada, não o vou ouvir a ressonar e ainda tenho pão fresco logo pela manhã!"
O problema das viúvas alegres é a facilidade com que enterram o marido e deixam a vida continuar... Talvez também andem "à pesca", muito cuidado!

Por fim, existem as viúvas do além...

A viúva do além

Estas não acreditam que o marido se perdeu para sempre. Acreditam que passou para o lado de lá. E elas querem ir com ele.
Usam a pesca como ligação ao lado de lá. Participam, não participando. Vão acompanhando as viagens longas pela noite fora e dormem no carro, por vezes com o filho por perto para não ficar sozinho em casa.
Preparam o material como podem, ajudam a seleccionar as amostras como podem, antecipam/atrasam refeições para coincidir com o horário definido para a pescaria. Qual a roupa que devem levar, terá frio ou não, preparam uma muda de roupa caso algo aconteça, relembram o facto de ter referido que a lanterna estava fraca das pilhas.
Quando chega a hora de rumar ao mar, o pensamento da viúva do além costuma ser, “ele foi tão cedo… Tinha tanto para lhe dizer… Nem lhe verificar como está a linha do carreto..."
Tudo é ligação à nova qualidade do seu amado, amanhar um peixe fresco capturado por ele, um colete sujo que será lavado com o maior dos cuidados, um video feito durante a captura que irá ver em loop....
Viúva do Além!
Esta ligação e apoio faz toda a diferença. Ter alguém que sabe e compreende os momentos difíceis que por vezes surgem, aquele esforço e dedicação é recompensado mil vezes mais que qualquer captura.
Um simples "boa sorte" ao partir ou um "como correu?" ao chegar exausto, molhado e com frio são simplesmente isso, coisas simples. Mas que fazem a diferença!

É preciso ter o maior respeito e admiração por quem consegue viver, respirar e acompanhar esta loucura, mania ou bichinho da pesca. Demora-se sempre mais do que o estipulado, as 2h de pesca rápida transformam-se por vezes em 3h ou 4h. Não merecem o mau humor ao acordar depois de algumas horas de sono e uma fraca noite de pesca.
Não merecem um resmungar quando se chega a casa com uma cana partida ou um carreto pêrro e ainda tentam animar dizendo que tudo se resolve e no dia seguinte irão a correr à loja de pesca mais próxima!...

Quando, da próxima vez que estiverem à pesca, estiverem perdidos nos pensamentos, pensem nisto!
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